Caracterização dos efeitos da aveloz (euphorbia tirucalli linn)
sobre a função renal de ratos wistar”.
Nome: EDGAR HELL KAMPKE
Data de publicação: 07/11/2023
Banca:
Nome | Papel |
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CARMEM SARTÓRIO | Examinador Externo |
MARCELLA PORTO TAVARES | Examinador Externo |
RICARDO MACHADO KUSTER | Examinador Interno |
VINICIUS BERMOND MARQUES | Examinador Interno |
Resumo: Há muitos séculos a humanidade tem se apegado aos produtos naturais, sobretudo, as plantas para obterem alívio e cura a suas enfermidades. Ao longo dos anos os conhecimentos sobre as propriedades das plantas foram passando de geração a geração muitas vezes ignorando a real eficácia ou a possibilidade de toxicidade dessas plantas. A Euphorbia tirucalli é uma planta de origem africana, mas com ampla distribuição e adaptação no continente americano, especialmente no Brasil. Seu látex já apresentou diversas ações terapêuticas demonstradas estudos in vitro, havendo portanto, uma necessidade de maiores estudos em modelos experimentais animais para demonstrar suas propriedades terapêuticas ou tóxicas sobre diferentes sistemas fisiológicos. Pensando nisso, o objetivo do presente trabalho foi caracterizar as ações da Euphorbia tirucalli sobre a função renal de ratos wistar saudáveis e possíveis mecanismos biomoleculares envolvidos. Para isso foram utilizados ratos wistar divididos em 2 grupos: Um grupo controle (CT) que recebeu água destilada e um grupo tratado com E. tirucalli (ET) na dose de 13,47mg/Kg durante 15 dias, ambos por gavagem. Os animais foram pesados antes e após o fim do tratamento. Em seguida foram anestesiados com tiopental sódico (50 mg/kg i.p) e em processo cirúrgico foram cateterizados a artéria femoral para aferição de pressão, veia femoral, para infusão de manitol, inulina e paraminohipurato (PAH), bem como a bexiga para coleta de urina. Uma traqueostomia também foi realizada para alivio respiratório. Os clearances de inulina e paraminohipurato foram realizados para determinar a taxa de filtração glomerular (TFG), o fluxo plasmático renal (FPR), o fluxo sanguíneo renal (FSR), resistência vascular renal (RVR) e pressão arterial média (PAM). Células renais foram isoladas e um homogenato tecidual preparado para analises bioquímicas. A produção de espécies reativas de oxigênio (EROS), nitrogênio (ERNS) e a apoptose foram avaliados por citometria de fluxo. Os animais não apresentaram diferença entre seus pesos antes e após os tratamentos. Os dados apontam que não houve alteração singnificativa em valores de TFG. No entanto foram percebidos valores significativamente menores de FPR (CT: 23,84±2,24 mL/min/Kg vs. ET: 17,51±2,24 mL/min/Kg) e FSR (CT: 39,13±3,23 mL/min/Kg vs. ET: 27,73±3,63 mL/min/Kg), enquanto valores maiores na RVR de animais tratados com E. tirucalli comparados ao grupo controle (CT: 4,178±0.36 u.a. vs. ET: 6,354±0.59 u.a.) foram observados. Esses dados são suportados pelo aumento da pressão arterial média (PAM) de animais tratados comparados ao controle (CT: 98,29 ±5.4 mmHg vs. ET: 119,0 ± 4.4 mmHg). Dados de hematócrito não sofreram alteração com o tratamento. Os índices de hipertrofia renal não apresentaram diferença significativa entre os grupos. As análises do homogenato tecidual mostraram uma quantificação significativamente elevada de Produtos Avançados de Oxidação Proteica (AOPP) nos grupos tratados com E. tirucalli comparados ao grupo controle (CT:1785±366,3 Mol/L vs ET:2774±231,2 Mol/L) e uma amplificação na atividade da enzima mieloperoxidase no grupo tratado comparado ao grupo controle (CT:0,002±0,0002 u.a. vs ET: 0,0029±0,0002 u.a.), indicando que a ingestão do látex de E. tirucalli promove danos oxidativos e inflamatórios. A quantificação dos níveis de EROS demonstrou que o tratamento com E. tirucalli reduziu significativamente os níveis de ânion superóxido (O2) no grupo tratado em comparação ao controle (CT:156,7±15,86 MFI u.a vs ET:95,78±20,31 MFI u.a.) evidenciados por células renais marcadas com DHE. Em contrapartida não houve diferença nos níveis de H2O2 nos grupos estudados. Nossos dados mostraram que entre as ERNS houve significativo aumento nos níveis de óxido nítrico (NO)
verificada por células marcadas com DAF no grupo tratado com E. tirucalli comparado ao controle (CT:1812±99,50 MFI u.a. vs ET:2737±249,6 MFI u.a.) e significativo aumento nos níveis de peroxinitrito (•ONOO-/•OH-) (CT:1176±90,45 MFI u.a. vs ET:1442±74,70 MFI u.a.). Analisamos a atividade apoptótica com os marcadores Annexina-V e Iodeto de propídio (PI) e uma significativa elevação em células renais marcadas apenas com Annexina V foi observada, indicando uma atividade apoptótica inicial em células renais de animais tratados com E. tirucalli em comparação ao grupo controle (CT:35,62 ± 3,05 % vs ET:44,58 ± 1,82 %). Os resultados indicam que 15 dias de tratamento com E. tirucalli já são suficientes para alterar a hemodinâmica renal em mecanismos que possivelmente envolvam o aumento de estresse oxidativo e atividade inflamatória. Acreditamos que E. tirucalli, por ser rica em ésteres de forbol, seria responsável pela elevação do estresse oxidativo e juntos, ambas as moléculas possuem capacidade de ativar a proteína quinase C, responsável por fosforilar inúmeros fatores de transcrição envolvidos em fenômenos de inflamação e apoptose. Assim pode-se inferir que o uso dessa planta deve ser cauteloso pois, provoca alterações funcionais e biomoleculares no tecido renal que podem acarretar em danos futuros, o que é especialmente preocupante em pacientes que invariavelmente fazem uso dessa planta.